A literatura no circuito de atuação da Fundação Tide Setubal

Uma das dinâmicas para fomentar a potência de atores periféricos é o apoio a projetos literários. A escolha por esse segmento está longe de ser aleatória: diversos estudos mostram como a leitura é importante na formação social e política e também no fortalecimento da identidade.

Em seu segundo ano de realização, o Circuito Literário nas Periferias (Clipe) buscou potencializar coletivos, calendários e eventos literários existentes na capital paulista, com ações em cinco territórios da cidade, espalhados pelas zonas noroeste, norte, sul e leste e pelo centro.

A expansão do trabalho do Clipe abrange as seguintes metas:

• contribuir com processos de letramento de comunidades locais, influenciando positivamente a alfabetização escolar;
• fortalecer lutas e identidades raciais e de gênero, temáticas necessariamente transversais à literatura periférica;
• formar politicamente e valorizar a produção cultural dos territórios onde os projetos atuam.

Para alcançar essas metas, a atuação se dá em eixos distintos para potencializar o trabalho de fortalecimento de atores culturais periféricos e, como consequência, os respectivos territórios onde atuam.

Patrocínio

O Clipe patrocinou feiras, encontros literários e festivais realizados em pontos diversos de São Paulo, com destaque para os territórios periféricos. Um dos destaques foi a primeira edição do Festival Mário de Andrade, para o qual a Fundação Tide Setubal possibilitou a vinda de Zamaswazi Dlamini-Mandela, neta de Nelson Mandela, e Sahm Venter, que compareceram ao encerramento do evento e falaram sobre o livro Cartas da Prisão de Nelson Mandela. A neta do ex-presidente sul-africano e líder da resistência contra o Apartheid no país falou sobre como a prisão de seu avô repercutiu e influenciou no cotidiano de sua família, assim como de quais maneiras a luta política de Madiba foi – e continua a ser – inspiradora como símbolo de resistência contra regimes políticos que colocam a democracia em risco.

O Clipe patrocinou também iniciativas relacionadas à edição de 2019 da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), como a ida do coletivo Encrespados de Parelheiros ao evento; a realização de duas mesas sobre literatura periférica na Casa Amarela, em parceria com a Rede LEQT; e a participação de mesa em conjunto com a deputada federal Benedita da Silva e a escritora Conceição Evaristo.

A Feira Literária da Zona Sul (Felizs), realizada em setembro de 2019, e a 13ª edição do Arte e Cultura na Kebrada, que aconteceu em agosto, também receberam apoio em 2019.

Eventos autorais

Além de patrocinar atividades idealizadas por agentes periféricos, o Clipe foi responsável por organizar eventos produzidos pela Fundação Tide Setubal.

Um dos destaques foi o lançamento da temporada 2019 do Clipe, na Biblioteca Mário de Andrade, com a participação do escritor e músico angolano Kalaf Epalanga, autor do livro Também os Brancos Sabem Dançar, e do rapper Eugênio Lima. O encontro marcou também o início das parcerias da Fundação com a Editora Todavia, a Biblioteca Mário de Andrade e a Secretaria Municipal de Cultura.

Ainda dentro do Clipe, Kalaf Epalanga voltou ao Brasil em outubro, quando participou de bate-papo realizado na Ocupação Cultural Mateus Santos, em Ermelino Matarazzo, na zona leste de São Paulo. Durante a atividade, que foi mediada pelo designer, artista plástico e MC Oga Mendonça, Epalanga falou sobre suas influências musicais, contou histórias dos movimentos dos quais fez parte e apresentou trechos do filme Off the Beaten Track, sobre a última turnê do Buraka Som Sistema, banda de kuduro da qual foi integrante e que está em hiato.

Festival do Livro e da Literatura de São Miguel

Tradição na relação da Fundação Tide Setubal com a zona leste e com a literatura, o Festival do Livro e da Literatura de São Miguel chegou à sua décima edição, realizada entre 4 e 8 de novembro em diversos pontos da região. As atividades do Festival aconteceram em escolas do território, no Galpão ZL e na Praça do Morumbizinho, onde houve debates com nomes de peso da literatura – comercial e periférica – e venda de livros.

O Festival do Livro e da Literatura de São Miguel contou com nomes como Milton Hatoum, três vezes vencedor do Prêmio Jabuti; Débora Garcia, criadora do Sarau das Pretas; Chico Felitti, jornalista e autor do livro Ricardo e Vânia – O Maquiador, a Garota de Programa, o Silicone e uma História de Amor, derivado de reportagem sobre Ricardo Correa da Silva, figura conhecida no centro de São Paulo ofensivamente chamada de “Fofão da Augusta”; a ilustradora e quadrinista Helô D’Angelo; e a jornalista, empreendedora e curadora de conteúdo Monique Evelle, que lançou durante o evento o seu livro Empreendedorismo Feminino: Olhar Estratégico sem Romantismo. Para completar, o evento recebeu também a final do Slam Interescolar Nacional, da qual participaram os campeões dos Slams Interescolares dos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro nas categorias Ensino Fundamental II e Ensino Médio.

Ainda na perspectiva de eventos autorais com foco em literatura, o Ponto de Leitura do Galpão ZL manteve uma programação anual e a realização de atividades em comemoração aos dez anos do espaço; auxiliou na organização de eventos do espaço de Prática Local da Fundação Tide Setubal durante a programação de férias que aconteceu lá e do ciclo de formação As Margens no Centro, que aconteceu no fim de 2019; e forneceu apoio, por meio de estrutura e programação artística, para a realização do Festival Bike Arte Gira, também no Galpão ZL.

Formação

O eixo é voltado ao apoio a iniciativas que tenham como objetivo formação de público, escritores e leitores nas periferias de São Paulo. Alguns destaques em 2019 dizem respeito à formação de cinco novos clubes de leitura, com mediadores que receberam formação da Companhia das Letras e atuaram nas regiões norte, sul, leste e oeste e no centro.

Já o projeto Pedagogia dos Saraus, do escritor Rodrigo Ciríaco, possibilitou o engajamento de professores da Rede Municipal de Educação – DRE São Miguel. O ciclo de oficinas formou esses docentes para aplicarem em sala de aula técnicas que despertem o interesse dos alunos pela leitura por meio da realização de saraus.